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Hoje, eu contarei sobre três ciclos da minha vida, iniciando pelo ciclo de estudante. Quando eu era estudante, ainda no final do século passado, a educação era separada por 1° e 2° grau. Ainda no meu período de estudante, mas, agora no início desse século, esse termo foi modificado para ensino fundamental e médio, naquela […]

16 mar 2024, 17:02

Hoje, eu contarei sobre três ciclos da minha vida, iniciando pelo ciclo de estudante. Quando eu era estudante, ainda no final do século passado, a educação era separada por 1° e 2° grau. Ainda no meu período de estudante, mas, agora no início desse século, esse termo foi modificado para ensino fundamental e médio, naquela época ainda era muito precário o acesso à tecnologia, poucos tinham computadores ou celulares. Os livros didáticos nas escolas eram precários (Imagina!!! Só quem viveu naquela época sabe o sofrimento!), o mesmo livro didático era utilizado por anos, passava de uma turma para outra, era uma alegria quando a minha turma recebia o livro novo, o cheiro de livro novo é uma das melhoras recordações que eu tenho dessa época. Tínhamos que carregar diversos livros nas costas, pois era fortemente utilizado em sala de aula.

Fazer pesquisas e trabalhos escolares era outro capítulo extremamente gratificante, me recordo das tardes que eu passava na biblioteca municipal, procurando livros nas prateleiras, sentando-se em uma das mesas e fazendo os resumos dos conteúdos, a capa dos trabalhos feitos a mão com muito carinho e capricho, era tão satisfatório entregar aqueles trabalhos em folhas de almaço, sabíamos todos os esforços gratificantes que tivemos em realizar aquele trabalho escolar. Eu sempre me sentia motivado nas leituras diárias de livros literários, era assíduo na biblioteca da escola, lia muito Ana Maria Machado, Ruth Rocha e o meu livro favorito sempre foi Pedro Bandeira, na adolescência conheci a biblioteca do SESC, tinha como referência Carlos Drumont de Andrade e também o Mário Quintana (nesse período li todos os livros dele). Na faculdade não era diferente, também fazia pesquisas na biblioteca para trabalhos acadêmicos e para a vida.

No meu primeiro ciclo como professor, a situação dos materiais didáticos já estava um pouco melhor, os livros didáticos eram entregues pelo Governo Estadual todos os anos, para alunos e professores, também tinha apostila de exercício para os alunos. A geração do computador já avançava e os estudantes já faziam pesquisas online. As bibliotecas nesse período já estavam sem uso, nós professores estávamos em uma constante batalha contra o plágio dos trabalhos, insistia para o estudante fazer a pesquisa e ler o conteúdo dos trabalhos.

Agora nesse novo ciclo como professor tudo está muito diferente, o governo entrega os livros didáticos e as apostilas, existem plataformas virtuais de aula, inclusive aulas remotas, existem plataformas com aulas prontas e os estudantes já estão com os celulares na mão, prontos para tirar fotos do conteúdo na lousa ou passado na TV. O professor hoje tem que fazer milagre em aulas de 45 min, pois, a cobrança é muito grande, em sala de aula ele precisa fazer a chamada online, colocar o conteúdo da aula e enviar por essas plataformas os exercícios já prontos (calma, calma, já prontos somente os exercícios e não as respostas para os estudantes) e os estudantes recebem mensagem em seus celulares informando que foram enviados pelos professores exercícios. Cada professor precisa também passar em sala de aula os slides de outra plataforma virtual e implorar para os estudantes escreverem alguma coisa no caderno, pois, eles precisam apreender a escrever. E os livros didáticos e apostilas? Só por um milagre que conseguiremos fazer com que todos utilizem.

Em um diálogo na reunião semanal dos professores, escutei um professor falar “eu só quero dar aula, não quero e não sou um transmissor de conteúdo, quero fazer o estudante a pensar e a organizar as ideias, estamos formando uma geração que não vai conseguir formular, pois estamos entregando tudo pronto”. Esse debate doeu meu coração porque de fato essa política está acabando com as próximas gerações, que se continuar assim, essa geração infelizmente terá dificuldade na formulação de opinião. Mas, será que isso não é proposital? Será que este Governo não quer uma geração que não questione? Esse foi mais um capítulo de “Um professor Militante”, que é um diário semanal, com a pretensão de trocar experiências com vocês, caros leitores, sobre a vida cotidiana de um professor na rede pública