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Capítulo 2  – Divisão de categoria de professores ou castas criadas?

Fui estudante de escola pública, de família pobre, entrei na faculdade em 2006, era uma faculdade pública, porém eu tinha que pagar mensalidade todos os semestres. Eu trabalhava durante o dia e estudava a noite, não tinha dinheiro para nada, para onde eu ia era na tudo na caminhada, usava os computadores da faculdade para […]

9 mar 2024, 15:35

Fui estudante de escola pública, de família pobre, entrei na faculdade em 2006, era uma faculdade pública, porém eu tinha que pagar mensalidade todos os semestres. Eu trabalhava durante o dia e estudava a noite, não tinha dinheiro para nada, para onde eu ia era na tudo na caminhada, usava os computadores da faculdade para fazer trabalhos, e era assíduo na biblioteca, tendo em vista que não tinha dinheiro para comprar livros. No segundo ano do curso de graduação, me inscrevi e comecei a lecionar como professor eventual na mesma escola a qual estudei durante toda a minha infância e adolescência. 

Lembro do meu primeiro dia enquanto professor, cheguei na escola e fui para a sala dos professores, algo que eu considerava intocável, meus batimentos cardíacos estavam acelerados, estava suando frio, entrei em um mundo diferente do meu mundo até então, a qual eu considerava imaginável. Mas, a realidade dos fatos ali por mim vividos me mostraram que nem tudo era um conto de fadas. Ali descobri o que é separação por categoria ou castas. Me lembro de ver uma mesa bem comprida, estilo de reunião, onde sentavam apenas e exclusivamente os professores efetivos e poucos professores estáveis (os mais antigos da escola), os demais professores estáveis sentavam no sofá, e os professores eventuais ficavam em pé em um canto da sala. Naquele mesmo dia vi que aqueles professores que eu tanto admirava com outros olhos, os olhos da indignação por ver e saber que se dividiam por castas.

E os armários da sala e de uso dos professores? Alguns professores com mais tempo de casa tinham até 3 armários, já os mais novos e os professores eventuais, tinham que dividir um armário para três professores e assim caminhavam aquelas “lindas” divisões. Em certo dia, resolvi afrontar, sentei na cadeira junto à mesa dos professores na hora do intervalo, após alguns segundos chegou o professor que se dizia ser o dono da cadeira, ficou em pé atrás de mim, sendo que, dali eu não saí. Muitos professores ficaram espantados com minha atitude, foram o total de 20 minutos de intervalo, nesses 20 minutos não se ouvia uma única palavra, apenas se via muitos olhares incrédulos, talvez eram olhares de admiração pela atitude. Aquele dia dei muita risada com aquela situação, mas, já era um sinal de que nada seria como antes. Começamos uma guerra fria das cadeiras da sala dos professores e isso movimentou também os outros professores que não tinham lugares à mesa e nem tinham armário individual. A partir dali, todo o intervalo tinha mais professor correndo que estudante, isso, apenas para ver quem chegava primeiro na sala dos professores e para se sentarem nas cadeiras junto à mesa, porém, ninguém, exatamente ninguém levantava o debate sobre essa situação, eram apenas atitudes.

Logico que a “guerra fria das cadeiras” de ódio se transformou em uma grande brincadeira, com fundo de moral e começamos a criar amizades descontraídas entre os professores e com o tempo foram acabando as castas e virando uma grande amizade entre todos os professores. Essa escola tinha uma tradição de nunca ninguém participar de   paralisação, de não participarem de nenhuma greve de professores e depois desse movimento, hoje essa escola é exemplo de organização e luta dos professores. 

Vindo para o meu novo ciclo na educação, eu vi uma sala de professores muito diferente, o entrosamento na sala dos professores é muito interessante, não vi até o momento nenhuma divisão de castas, mas, percebi que a categoria de hoje está muito mais reprimida e está baixando a cabeça aos desmandos governamentais. Esse capítulo sofrerá revés, pois, essa nova categoria uma hora vai se levantar.

Esse será um diário semanal, onde pretendo trocar experiências com vocês caros leitores sobre a vida cotidiana de um professor na rede pública.