FALA PROFESSOR! – EDUCAÇÃO EM DEBATE!
Redação do Enem: O Leilão da Educação e o Contraponto da Nova Matriz Curricular Ah, Enem! A oportunidade em que milhões de jovens filhos da classe trabalhadora, pretas, pretos e periféricos possuem de chegar à universidade pública e, ao mesmo tempo, presenciamos o sistema educacional brasileiro, em particular a educação estadual de São Paulo, se […]
Redação do Enem: O Leilão da Educação e o Contraponto da Nova Matriz Curricular
Ah, Enem! A oportunidade em que milhões de jovens filhos da classe trabalhadora, pretas, pretos e periféricos possuem de chegar à universidade pública e, ao mesmo tempo, presenciamos o sistema educacional brasileiro, em particular a educação estadual de São Paulo, se transformar “EM UM LEILÃO DE OPORTUNIDADES”, em vez de um espaço de aprendizado. Detalhe: o tal leilão de oportunidades é sobre o mercado financeiro lucrando com a destruição do ensino público de qualidade.
Este ano, o tema da redação do ENEM, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, surge como um apelo à consciência social, mas como discutir herança cultural quando a educação pública, especialmente em São Paulo, está sendo reduzida a um espetáculo de cortes e terceirizações?
Imagine o cenário: Tarcísio de Freitas e Renato Feder, os “mágicos da gestão”, decidiram que o melhor para a educação é menos História, menos Filosofia e menos Sociologia! Enquanto os alunos precisam entender as raízes de sua identidade cultural, o governo acha mais pertinente prepará-los para o mercado de trabalho. Afinal, quem precisa de reflexão crítica quando se pode ser um excelente operário precarizado? Porém, essa é uma ação apenas para estudantes periféricos, já que a matriz curricular das escolas particulares mantém seu foco no ensino crítico.
E não é apenas uma questão de currículo. A nova matriz curricular, com sua configuração estranha e suas promessas vazias, está fazendo com que conteúdos essenciais se tornem acessíveis apenas por meio de itinerários formativos específicos, quase como se fossem uma prateleira de produtos em promoção. Quer estudar Humanidades? Só na seção de “opções extras”, se você tiver tempo e recursos. Enquanto isso, a Lei 10.639/2003, que deveria garantir a inclusão da cultura afro-brasileira nas escolas, permanece em um universo paralelo, esperando a boa vontade de quem não parece estar muito interessado.
Ainda temos o debate das escolas cívico-militares. Porque, claro, a disciplina militar ensinará o que os currículos tradicionais não ensinam: “MARCHAR e OBEDECER.” Afinal, o que mais precisamos além de bons soldados, não é mesmo? E enquanto as escolas estão sendo transformadas em campos de treinamento, os professores, esses verdadeiros heróis da educação, continuam a ser desvalorizados e desmotivados.
A ironia é palpável: enquanto os estudantes do Enem são convocados a discutir a valorização da herança africana, o próprio sistema educacional se esforça para apagar essas vozes. E o que sobra? Um jogo de responsabilidades entre o governo e a sociedade, onde a culpa é sempre de quem está fora do jogo.
Portanto, a redação do Enem, que poderia ser uma oportunidade de reflexão e crítica, acaba se tornando um exercício de cinismo por parte dos governos. É um chamado à consciência que ecoa em um corredor de escolas que mais se assemelham a presídios do que às instituições de ensino.
A pergunta que fica é: como podemos esperar que os jovens façam análises críticas e proponham soluções se o próprio sistema educacional lhes nega as ferramentas necessárias? Ainda bem que temos Racionais e músicas como “Capítulo 4, Versículo 5”, que trazem luz a tempos de escuridão e, através da música, disseminam conhecimento nas diversas periferias do Brasil.
É inegável a importância do ENEM e de temas que aumentam o debate sobre a desigualdade, racismo e consciência de classe. Porém, entre cortes de disciplinas essenciais para a consciência crítica e leilões de educação, resta-nos uma pergunta amarga: até quando aceitaremos que a educação pública atenda apenas aos interesses do mercado, como uma grande fazenda de mão de obra barata?
A educação não deve ser tratada como um produto, mas como um direito fundamental, e os últimos temas de redação do ENEM deixam isso bem transparente. Precisamos, como sociedade, reverter essa lógica de mercantilização da educação.