'

O ENEM e a Tal Democracia Educacional!

O Brasil é o país das oportunidades? Talvez seja, mas para quem pode pagar por elas, é claro. O pobre, preta ou preto a filha e o filho do trabalhador parecem viver em “GAME SHOW” estamos falando do grande espetáculo chamado de “EDUCAÇÃO PÚBLICA” que a cada ano com tremenda maestria apresenta a desigualdade educacional […]

11 nov 2024, 11:30

O Brasil é o país das oportunidades? Talvez seja, mas para quem pode pagar por elas, é claro. O pobre, preta ou preto a filha e o filho do trabalhador parecem viver em “GAME SHOW” estamos falando do grande espetáculo chamado de “EDUCAÇÃO PÚBLICA” que a cada ano com tremenda maestria apresenta a desigualdade educacional no Brasil. Para ser direto estamos falando do dia que gostamos de chamar: “o dia em que os estudantes de escolas públicas descobrem que seus esforços são apenas mais uma etapa no grande jogo da desigualdade.”

Ainda não sacou? Estamos falando do “EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO!”

Ah, o ENEM enquanto os estudantes da rede pública ficam na plateia, tentando entender as regras que mudam a cada rodada temos a oportunidade de reforçar o que já sabíamos que as surpresas em 2024 não estão necessariamente nas questões, mas nas diferenças entre escolas públicas e particulares. Não que a intenção seja essa, é claro – afinal, o ENEM é “DEMOCRÁTICO.”

O governo, a mídia tradicional os gestores do capital adoram dizer que o ENEM é a grande porta de entrada para a universidade pública. O que não contam é que a chave dessa porta está, na verdade, nas mãos daqueles que tiveram o privilégio de pagarem por sua educação.
Comecemos com a reforma do ensino médio, aquela brilhante ideia que diminuiu a carga horária de matérias como filosofia, sociologia, geografia e história. Afinal, quem precisa refletir sobre a sociedade ou entender o mundo ao seu redor, não é mesmo? E então, o que o ENEM faz? Cobra exatamente essas disciplinas! A prova de ciências humanas é um exemplo de ironia pura.

E a geografia? Ah, claro, Dubai! A comparação entre imagens de satélite da cidade em 2000 e 2020, porque, claro, isso é tão relevante para o estudante que mal tem acesso ao básico da geografia física, que por sinal, teve sua carga horária drasticamente reduzida. Só faltou uma questão perguntando se os alunos já reservaram suas passagens para as férias por lá.
Mas o mais brilhante é a prova de história e sociologia. No contexto de uma reforma educacional que enxuga essas disciplinas para “otimizar” o tempo dos estudantes (leia-se: para fazer o aluno aprender menos e competir ainda menos), o ENEM resolve cobrar temas como América Colonial, abolicionismo e comunidades tradicionais.

Agora, vamos falar da cereja do bolo: a filosofia no Enem. Aristóteles, Eudemonia, Immanuel Kant, Imperativo categórico, Bertrand Russell… Alguém mais vê a ironia em cobrar os alunos da escola pública sobre conceitos filosóficos? A disciplina em si foi praticamente extinta em suas matrizes curriculares. Como se espera que eles tenham uma discussão sobre empirismo quando tudo o que lhes foi oferecido é um empirismo da precariedade?


E o que dizer da redação? Como sempre, um tema que exige repertório cultural e habilidade crítica. Porque todo estudante de escola pública, enfrentando salas de aula superlotadas e professores sobrecarregados, tem a mesma base para debater isso com a mesma fluência de um aluno que passou a vida toda numa escola particular, participando de passeios e viagens culturais como museus, não é? Ainda bem que temos Racionais para disseminar conhecimento nas periferias do Brasil.

Ah, não podemos esquecer que os estudantes de escolas públicas, periféricos, pretas e pretos podem contar com a violência policial, racismo e preconceitos diários para ajudá-los nas questões relacionadas aos debates sociais e alcançar grandes notas no ENEM. SÓ QUE NÃO!
Mas vamos ser honestos, isso se transforma em uma piada amarga quando a gente pensa nas aulas de humanas que mal existem nas escolas públicas devido à “maravilhosa” reforma do ensino médio. No fim, o ENEM não é só uma prova. É um retrato fiel da desigualdade educacional brasileira. Tudo isso em nome de uma “democracia educacional”.

Mas, claro, devemos celebrar a “democracia” do ENEM, e a chance de lembrar o quão desigual é o nosso sistema educacional. Então, para os estudantes das escolas públicas, resta apenas um lembrete: o ENEM é de grande importância e principalmente os estudantes das escola públicas precisam prestar a prova, porém precisam entender que o ENEM não é apenas uma prova. É um espetáculo anual que escancara o quão desigual é o nosso sistema de ensino.
Afinal, quem precisa de uma educação pública de qualidade ao ter uma prova “igual para todos”?